Na sociedade neoliberal cresce a produção de bens supérfluos, oferecidos como mercadorias indispensáveis. O consumidor, massacrado pela publicidade, acaba se convencendo de que a saúde de seu cabelo depende de uma determinada marca de xampu. Melhor cortar a cabeça do que viver sem o tal produto...
Para o neoliberalismo, o que importa não é o progresso, mas o mercado; não é a qualidade do produto, mas seu alcance publicitário; não é o valor de uso de uma mercadoria, mas o fetiche que a reveste. Comprase um produto pela aura que o envolve. A grife da mercadoria promove o status do usuário. Exemplo: se chego de ônibus na casa de um estranho e você desembarca de um BMW, acredita que seremos encarados do mesmo modo?
Para o neoliberalismo, não é o ser humano que imprime valor à mercadoria; ao contrário, a grife da roupa “promove” socialmente o seu usuário, assim como um carro de luxo serve de nicho à exaltação de seu dono. Passa a ser visto pelos bens que envolvem a sua pessoa.
Em si, a pessoa parece não ter nenhum valor à luz da ótica neoliberal. Por isso, quem não possui bens é desprezado e excluído. Quem os possui é invejado, cortejado e festejado. A pessoa passa a ser vista (e valorizada) pelos bens que ostenta.
O mercado é como Deus: invisível, onipotente, onisciente e, agora, com o fim do bloco soviético, onipresente. Dele depende a nossa salvação. Damos mais ouvidos aos profetas do mercado — os indicadores financeiros — que à palavra das Escrituras.
Idolatrias à parte, o mercado é seletivo. Não é uma feira-livre cujos produtos carecem de controle de qualidade e garantia. É como shopping center, onde só entra quem tem (ou aparenta ter) poder aquisitivo.
O mercado é global. Abarca os milhardários de Boston e os zulus da África, os vinhos da mesa do papa e as peles de ovelhas que agasalham os monges do Tibete. Tudo se compra, tudo se vende: alfinetes e afetos; televisores e valores; deputados e pastores. Para o mercado, honra é uma questão de preço.
Fora do mercado não há salvação — é o dogma do neoliberalismo. Ai de quem não acreditar e ousar pensar diferente! No mercado, ninguém tem valor por ser alguém. O valor é proporcional à posição no mercado. Quem vende ocupa maior hierarquia do que quem compra. E quem comanda o mercado controla os dois.
Mercado vem do verbo latino mercari, “trocar por algo”, que deu também origem a mercê, “o que se dá em troca de algo”, donde mercearia e mercenário. Comércio vem de “com mercê”, com troca. Portanto, é dando que se recebe. Quem não tem capital, produtos ou saber para oferecer no mercado, só entra ofertando a força de trabalho, o corpo ou a imbecilidade (vide TV aos domingos).
O mercado tem suas sofisticações. Não fica bem dizer “tudo é uma questão de mercado”. Melhor o anglicismo "marketing", que significa “ciência do comércio”. É uma questão de marketing o tema da telenovela, o sorriso do apresentador de TV, o visual do candidato e até o anúncio do suculento produto que prepara o colesterol para as olimpíadas do infarto. Vende-se até a imagem primeiromundista de um país atulhado de indigentes perambulando pelos sertões à cata de terra para plantar.
Outrora, olhava-se pela janela para saber como andava o tempo. Hoje, liga-se o rádio e a TV para saber como se comporta o mercado. É ele que traz verão ou inverno às nossas vidas. Seus arautos merecem mais espaço que os meteorologistas. Dele dependem importações e exportações, inversões e fugas de capitais, contratos e fraudes.
Nem todos merecem o mesmo status no mercado. "Freguês", quitandeiro ou barraqueiro é quem trabalha no mercado de alimentos. "Executivo" ou "investidor", quem opera no mercado financeiro. "Marchand", quem atua no mercado de arte. "Corretor", quem agencia no mercado imobiliário. "Sujeito de sorte", quem hoje se encontra no mercado de trabalho, ainda que condenado ao salário-mínimo. E quem opera no mercado de capitais? "Especulador". Mas quem ousa apresentar-se com tal marketing?
É no mínimo preocupante constatar como, hoje, se enche a boca para falar de livre mercado e competitividade, e se esvazia o coração de solidariedade. A continuar assim, só restarão os valores da Bolsa. E em que mercado comprar as nossas mais profundas aspirações: amor e comunhão, felicidade e paz?
O mercado desempenha, pois, função religiosa. Ergue-se como novo sujeito absoluto, legitimado por sua perversa lógica de expansão das mercadorias, concentração da riqueza e exclusão dos desfavorecidos. Já reparou como os comentaristas da TV se referem ao mercado? “Hoje o mercado reagiu às últimas declarações do líder da oposição”. Ou: “O mercado retraiu-se diante da greve dos trabalhadores”.
Parece que o mercado é um elegante e poderoso senhor que habita o alto de um castelo e, de lá, observa o que acontece aqui embaixo. Quando se irrita, pega o celular e liga para o Banco Central. Seu mau humor faz baixar os índices da Bolsa de Valores ou subir a cotação do dólar. Quando está de bom humor, faz subir os índices de valorização das aplicações financeiras.
Para Jesus, “ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mateus 6,24). Mas quem se interessa em servir a Deus se ele é invocado pelo fundamentalismo de Bush e Bin Laden? Enquanto os senhores da guerra tomarem o Seu Santo Nome em vão, estaremos distante da tão almejada paz.
Frei Betto
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En la sociedad neoliberal crece la producción de bienes supérfluos, ofrecidos como mercancías indispensables. El consumidor, avasallado por la publicidad, termina convenciéndose de que la salud de su cabello depende de una determinada marca de champú. Mejor cortarse la cabeza que vivir sin tal producto...
Para el neoliberalismo lo que importa no es el progreso sino el mercado; no es la calidad del producto sino su alcance publicitario; no es el valor de uso de una mercancía sino el fetiche de que va revestida. Se compra un producto por el aura que lo rodea. La marca del producto promueve el status del usuario. Ejemplo: si voy a la casa de un extraño en autobús y usted desembarca de un BMW, ¿cree que seremos atendidos del mismo modo?
Para el neoliberalismo no es el ser humano quien da valor a la mercancía; al contrario, la marca de la ropa "promueve" socialmente a su usuario, así como un vehículo de lujo sirve de pedestal a la exaltación de su dueño. Pasa a ser visto por los bienes de que está rodeada la persona.
En sí misma, la persona parece no tener ningún valor a la luz de la ética neoliberal. Por eso, quien no posee bienes es despreciado y excluido. Y quien los tiene es envidiado, cortejado y festejado. La persona pasa a ser vista (y valorada) por los bienes que ostenta.
El mercado es como Dios: invisible, omnipotente, omnisciente y ahora, con el fin del bloqueo soviético, omnipresente. De él depende nuestra salvación. Damos más oídos a los profetas del mercado - los indicadores financieros - que a la palabra de las Escrituras.
Idolatrías aparte, el mercado es selectivo. No es un mercado libre cuyos productos carecen de control de calidad y garantía. Es como un centro comercial en el que sólo entra quien tiene (o aparenta tener) poder adquisitivo.
El mercado es global. Abarca a los multimillonarios de Boston y a los zulús de África, a los vinos de mesa del papa y a las pieles de oveja que abrigan a los monjes del Tibet. Todo se compra, todo se vende: alfileres de corbata y afectos, televisores y valores, diputados y pastores. Para el mercado, la honra es una cuestión de precio.
Fuera del mercado no hay salvación, es el dogma del neoliberalismo. ¡Ay de quien no lo crea y se atreva a pensar algo diferente! En el mercado nadie tiene valor por ser alguien. El valor es proporcional a la posición en el mercado. Quien vende ocupa una jerarquía mayor que quien compra. Y quien controla el mercado controla a los dos.
Mercado procede del latín mercari, "cambiar por algo", que dio origen también a merced, "lo que se da a cambio de algo", de donde vienen mercería y mercenario. Comercio viene de "con merced", con cambio. Por tanto es dando como se recibe. Quien no tiene capital, productos o saber para ofrecer en el mercado, sólo entra ofreciendo la fuerza de trabajo, el cuerpo o la imbecilidad (y si no, vea la televisión los domingos).
El mercado tiene sus sofisticaciones. No queda bien decir "todo es una cuestión de mercado". Mejor el anglicismo "marketing", que significa "ciencia del comercio". Es una cuestión de marketing el tema de la telenovela, la sonrisa del presentador de la tv, la imagen de un candidato y hasta el anuncio del suculento producto que prepara el colesterol para las olimpiadas del infarto. Se vende hasta la imagen primermundista de un país atiborrado de indigentes deambulando por las sabanas a la búsqueda de tierra para sembrar.
Antes se miraba por la ventana para saber cómo estaba el tiempo. Hoy se enciende la tv o la radio para saber cómo se comporta el mercado. Él es quien trae verano o invierno a nuestras vidas. Sus predicciones merecen más espacio que los meteorólogos. De él dependen importaciones y exportaciones, inversiones y fugas de capitales, contratos y fraudes.
Pero no todos merecen el mismo status en el mercado. "Feligrés", frutero o feriante es quien trabaja en el mercado de alimentos. "Ejecutivo" o "inversor", quien opera en el mercado financiero. "Marchand" es quien actúa en el mercado del arte. "Corredor", quien anda en el mercado inmobiliario. "Sujeto de suerte", quien está hoy en el mercado de trabajo, aunque sea condenado al salario mínimo. ¿Y quien opera en el mercado de capitales? "Especulador". Pero ¿a quién se le ocurre presentarse como tal ante el marketing?
Es al menos preocupante constatar cómo, hoy día, se infla uno para hablar de libre mercado y competitividad, pero se vacía el corazón de solidaridad. De continuar así, sólo van a quedar los valores de la Bolsa. ¿Y en qué mercado vamos a comprar nuestras más profundas aspiraciones: amor y comunión, felicidad y paz?
El mercado desempeña, pues, una función religiosa. Se alza como nuevo sujeto absoluto, legitimado por su perversa lógica de expansión de las mercancías, concentración de riqueza y exclusión de los desfavorecidos. ¿Ya se dio cuenta de cómo los comentaristas de tv se refieren al mercado? "Hoy el mercado reaccionó ante las últimas declaraciones del lider de la oposición", o: "El mercado se contrajo ante la huelga de los trabajadores".
Pareciera que el mercado es un elegante y poderoso señor que habita en lo alto de un castillo y desde allí observa lo que acontece aquí abajo. Cuando se irrita toma el celular y llama al Banco Central. Su malhumor hace bajar los índices de la Bolsa de Valores o subir la cotización del dólar. Cuando está de buenhumor hace subir los índices de valorización de las aplicaciones financieras.
Para Jesús "nadie puede servir a dos señores, pues bien odiará a uno y amará al otro, o se apegará al primero y despreciará al segudo. No pueden servir a Dios y al dinero" (Mateo 6,24). Pero ¿quién se interesa en servir a Dios si éste es invocado por el fundamentalismo de Bush y de Bin Laden? Mientras los señores de la guerra tomen el santo Nombre de Dios en vano, estaremos lejos de la tan ansiada paz.
Frei Betto
Nella società neoliberista cresce la produzione dei beni superflui offerti come beni di prima necessità. Il consumatore, sopraffatto dalla pubblicità, viene indotto a credere che la salute dei propri capelli dipenda da una particolare marca di shampoo. Meglio tagliarsi la testa che vivere senza questo prodotto...
Per il neoliberismo, ciò che conta non è il progresso, ma il mercato, non la qualità del prodotto, ma il loro potenziale pubblicitario, non il valore d'uso di una merce, ma la natura di feticcio di cui è rivestito. Si compra un prodotto per l'aura che lo circonda. La griffe, il marchio di un prodotto promove e rivela lo status di chi ne fa uso. Esempio: se io arrivo con l'autobus a casa di uno sconosciuto mentre tu lo fai scendendo da una BMW, credi che saremo considerati allo stesso modo?
Per il neoliberismo, non è l'essere umano che attribuisce valore alle merci, ma la marca dell'abbigliamento che "promuove" socialmente colui che ne fa uso, così come un'auto di lusso è il piedistallo per l'esaltazione del suo proprietario. Succede così d'esser visti attraverso i beni di cui una persona è circondata.
Di per sé, la persona sembra non avere alcun valore alla luce della prospettiva neoliberista. Pertanto, coloro che non possiedono beni sono esclusi e disprezzati. E quanti ne possiedono, sono invece invidiati, corteggiati e festeggiati. La persona è quindi vista (e considerata) per i beni che ostenta.
Il mercato è come Dio: invisibile, onnipotente, onnisciente e ora, con il crollo del blocco sovietico, onnipresente. La nostra salvezza dipende da questo. Ascoltiamo i profeti del mercato - gli indicatori finanziari - come la parola della Sacra Scrittura.
Idolatrie a parte, il mercato è selettivo. C'è un mercato libero, i cui prodotti non hanno controllo di qualità e garanzia. E' come un centro commerciale, dove entra solo chi ha (o sembra avere) potere d'acquisto.
Il mercato è globale. Esso comprende i miliardari di Boston e gli Zulu dell'Africa, i vini della mensa del papa e le pelli di pecora che avvolgono i monaci tibetani. Tutto si compra, tutto si vende: spille ed affetti, televisori e valori; parlamentari e ministri. Per il mercato, l'onore è solo una questione di prezzo.
Al di fuori del mercato non c'è salvezza - è il dogma del neoliberismo. Guai a coloro che non credono e hanno il coraggio di pensare in modo diverso! Nel mercato, nessuno ha valore per il solo fatto di essere qualcuno. Il valore è proporzionale alla posizione di mercato. Chi vende occupa un rango superiore rispetto a quelli che comprano. E chi controlla il mercato comanda entrambi.
Mercato deriva dal verbo latino mercari, "in cambio di qualcosa", che ha anche dato origine a misericordia, "che è dato in cambio di qualcosa", e da cui vengono anche mercanzia e mercenario. Commercio viene da "con mercede", in cambio. Pertanto, è dando che si riceve. Chi non ha capitale, merci o sapere da offrire sul mercato, entra solo offrendo la sua forza lavoro, il corpo o l'imbecillità (e sennò se ne stia a guardare la TV la domenica).
Il mercato ha le sue raffinatezze. Non è bene dire "tutto è una questione di mercato". Meglio l'anglicismo "marketing", che significa "scienza del commercio". E' una questione di marketing il tema della telenovela, il sorriso di un presentatore TV, l'immagine di un candidato, fino ad arrivare al lancio del succulento prodotto che prepara il colesterolo per le Olimpiadi dell'infarto. Si vende perfino l'immagine di un paese del terzo mondo disseminato di poveri che vagano per le savane in cerca di terra da coltivare.
Prima si guardava fuori della finestra per vedere com'era il tempo. Oggi si accende la radio e la TV per sapere come si comporta il mercato. E' lui che porta estate o in inverno nella nostra vita. I suoi araldi meritano più spazio dei meteorologi. Da esso dipendono le importazioni e le esportazioni, gli investimenti e la fuga di capitali, gli appalti e le perdite.
Non tutti meritano lo stesso status nel mercato. "Commerciante", droghiere o venditore ambulante è chi lavora nel mercato alimentare. "Financial executive" o "investor", chi opera nel mercato finanziario. "Collector", chi lavora nel mercato dell'arte. "Immobiliarista", chi opera in campo immobiliare. "Nato con la camicia", chi oggi è nel mercato del lavoro, anche se condannato al salario minimo. E coloro che operano nel mercato dei capitali? "Speculatori". Ma a chi conviene presentarsi come tale nel marketing? E' quanto meno preoccupante vedere oggi quanti si riempiono la bocca di libero mercato e concorrenza, ma svuotano il cuore dalla solidarietà. Se continuiamo così, non ci resteranno solo i valori della Borsa. E in che mercato andremo a comprare le nostre più profonde aspirazioni: l'amore e la fratellanza, la pace e la felicità?
Il mercato svolge quindi una funzione religiosa. Si erge come un nuovo soggetto assoluto, legittimato dalla sua logica perversa di espansione delle merci, concentrazione della ricchezza ed esclusione delle persone svantaggiate. Avete notato come i commentatori televisivi si riferiscono al mercato? "Oggi il mercato ha reagito alle ultime dichiarazioni del leader dell'opposizione". Oppure: "Il mercato si è contratto a seguito dello sciopero dei lavoratori".
Sembra che il mercato sia un uomo elegante e potente che abita in cima a un castello, e da lì guarda cosa succede qui. Quando è irritato, afferra il telefono e chiama la Banca Centrale. Il suo malumore abbassa gli indici di borsa o fa salire il dollaro. Quando sta di buon umore, aumenta i tassi di copertura degli investimenti.
Per Gesù, "nessuno può servire due padroni. Perché, o odierà l'uno e amerà l'altro, oppure si affezionerà al primo e disprezzerà il secondo. Non potete servire Dio e il denaro" (Matteo 6,24). Ma chi è disposto a servire Dio, se questi viene invocato dal fondamentalismo di Bush e Bin Laden? Mentre i signori della guerra pronunciano il suo santo nome invano, siamo lontani dalla sospirata pace.
Frei Betto