Querido Che

At the risk of seeming ridiculous, let me say that the true revolutionary is guided by a great feeling of love. It is impossible to think of a genuine revolutionary lacking this quality.

Déjenme decirles, a riesgo de parecer ridículo, que el revolucionario verdadero está guiado por grandes sentimientos de amor. Es imposible pensar en un revolucionario auténtico sin esta cualidad.

Ernesto "Che" Guevara


Querido Che,
Passaram-se muitos anos desde que a CIA te assassinou nas selvas da Bolívia, a 8 de outubro de 1967. Tu tinhas, então, 39 anos de idade. Pensavam teus algozes que, ao cravar balas em teu corpo, após te capturarem vivo, condenariam tua memória ao olvido. Ignoravam que, ao contrário dos egoístas, os altruístas jamais morrem. Sonhos libertários não se confinam em gaiolas como pássaros domesticados. A estrela de tua boina brilha mais forte, a força dos teus olhos guia gerações nas veredas da justiça, teu semblante sereno e firme inspira confiança nos que combatem por liberdade. Teu espírito transcende as fronteiras da Argentina, de Cuba e da Bolívia e, chama ardente, ainda hoje inflama o coração de muitos.
Mudanças radicais ocorreram nesses trinta e seis anos. O Muro de Berlim caiu e soterrou o socialismo europeu. Muitos de nós só agora compreendem tua ousadia ao apontar, em Argel, em 1962, as rachaduras nas muralhas do Kremlin, que nos pareciam tão sólidas. A história é um rio veloz que não poupa obstáculos. O socialismo europeu tentou congelar as águas do rio com o burocratismo, o autoritarismo, a incapacidade de estender ao cotidiano o avanço tecnológico propiciado pela corrida espacial e, sobretudo, revestiu-se de uma racionalidade economicista que não deitava raízes na educação subjetiva dos sujeitos históricos: os trabalhadores.
Quem sabe a história do socialismo seria outra, hoje, se tivessem dado ouvidos às tuas palavras: “O Estado às vezes se equivoca. Quando ocorre um desses equívocos, percebe-se uma diminuição do entusiasmo coletivo devido a uma redução quantitativa de cada um dos elementos que o formam, e o trabalho se paralisa até ficar reduzido a magnitudes insignificantes: é o momento de retificar.”.
Che, muitos de teus receios se confirmaram ao longo desses anos e contribuiram para o fracasso de nossos movimentos de libertação. Não te ouvimos o suficiente. Da África, em 1965, escreveste a Carlos Quijano, do jornal Marcha, de Montevidéo: “Deixe-me dizê-lo, sob o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor. É impossível pensar num revolucionário autêntico sem esta qualidade.
Alguns de nós, Che, abandonaram o amor aos pobres que, hoje, se multiplicam na Pátria Grande latino-americana e no mundo. Deixaram de se guiar por grandes sentimentos de amor para serem absorvidos por estéreis disputas partidárias e, por vezes, fazem de amigos, inimigos, e dos verdadeiros inimigos, aliados. Minados pela vaidade e pela disputa de espaços políticos, já não trazem o coração aquecido por ideais de justiça. Ficaram surdos aos clamores do povo, perderam a humildade do trabalho de base e, agora, barganham utopias por votos.
Quando o amor esfria, o entusiasmo arrefece e a dedicação retrai-se. A causa como paixão desaparece, como o romance entre um casal que já não se ama. O que era “nosso” ressoa como “meu” e as seduções do capitalismo afrouxam princípios, transmutam valores e, se ainda prosseguimos na luta, é porque a estética do poder exerce maior fascínio que a ética do serviço.
Teu coração, Che, pulsava ao ritmo de todos os povos oprimidos e espoliados. Peregrinastes da Argentina à Guatemala, da Guatemala ao México, do México à Cuba, de Cuba ao Congo, do Congo à Bolívia. Saístes todo o tempo de ti mesmo, incandescido pelo amor que, em tua vida, se traduzia em libertação. Por isso podias afirmar, com autoridade, que “é preciso ter uma grande dose de humanidade, de sentido de justiça e de verdade para não cair em extremos dogmáticos, em escolasticismos frios, em isolamento das massas. Todos os dias é necessário lutar para que este amor à humanidade viva se transforme em fatos concretos, em gestos que sirvam de exemplo, de mobilização.
Quantas vezes, Che, nossa dose de humanidade ressecou-se calcinada por dogmatismos que nos inflaram de certezas e nos deixaram vazios de sensibilidade com os dramas dos condenados da Terra! Quantas vezes nosso sentido de justiça perdeu-se em escolasticismos frios que proferiam sentenças implacáveis e proclamavam juízos infamantes! Quantas vezes nosso senso de verdade cristalizou-se em exercício de autoridade, sem que correspondêssemos aos anseios dos que sonham com um pedaço de pão, de terra e de alegria.
Tu nos ensinaste um dia que o ser humano é o “ator desse estranho e apaixonante drama que é a construção do socialismo, em sua dupla existência de ser único e membro da comunidade”. E que este não é “um produto acabado. As taras do passado se trasladam ao presente na consciência individual e há que empreender um contínuo trabalho para erradicá-las”. Quiçá tenha nos faltado sublinhar com mais ênfase os valores morais, as emulações subjetivas, os anseios espirituais. Com o teu agudo senso crítico, cuidaste de advertir-nos de que “o socialismo é jovem e tem erros. Os revolucionários carecem, muitas vezes, de conhecimentos e da audácia intelectual necessárias para encarar a tarefa do desenvolvimento do homem novo por métodos distintos dos convencionais, pois os métodos convencionais sofrem a influência da sociedade que os criou”.
Apesar de tantas derrotas e erros, tivemos conquistas importantes ao longo desses trinta anos. Movimentos populares irromperam em todo o Continente. Hoje, em muitos países, são melhor organizados as mulheres, os camponeses, os operários, os índios e os negros. Entre os cristãos, parcela expressiva optou pelos pobres e engendrou a Teologia da Libertação. Extraímos consideráveis lições das guerrilhas urbanas dos anos 60; da breve gestão popular de Salvador Allende; do governo democrático de Maurice Bishop, em Granada, massacrado pelas tropas dos EUA; da ascensão e queda da Revolução Sandinista; da luta do povo de El Salvador. No Brasil, o Partido dos Trabalhadores chegou ao governo com a eleição de Lula; na Guatemala, as pressões indígenas conquistam espaços significativos; no México, os zapatistas de Chiapas põem a nu a política neoliberal.
Há muito a fazer, querido Che. Preservamos com carinho tuas maiores heranças: o espírito internacionalista e a Revolução cubana. Uma e outra coisa hoje se intercalam como um só símbolo. Comandada por Fidel, a Revolução cubana resiste ao bloqueio imperialista, à queda da União Soviética, à carência de petróleo, à mídia que procura satanizá-la. Resiste com toda a sua riqueza de amor e humor, salsa e merengue, defesa da pátria e valorização da vida. Atenta à tua voz, ela desencadeia o processo de retificação, consciente dos erros cometidos e empenhada, malgrado as dificuldades atuais, em tornar realidade o sonho de uma sociedade onde a liberdade de um seja a condição de justiça do outro.
De onde estás, Che, abençoes todos nós que comungamos teus ideais e tuas esperanças. Abençoes também os que se cansaram, se aburguesaram ou fizeram da luta uma profissão em benefício próprio. Abençoes os que têm vergonha de se confessar de esquerda e de se declarar socialistas. Abençoes os dirigentes políticos que, uma vez destituídos de seus cargos, nunca mais visitaram uma favela ou apoiaram uma mobilização. Abençoes as mulheres que, em casa, descobriram que seus companheiros eram o contrário do que ostentavam fora, e também os homens que lutam por vencer o machismo que os domina. Abençoes todos nós que, diante de tanta miséria a erradicar vidas humanas, sabemos que não nos resta outra vocação senão converter corações e mentes, revolucionar sociedades e continentes. Sobretudo, abençoe-nos para que, todos os dias, sejamos motivados por grandes sentimentos de amor, de modo a colher o fruto do homem e da mulher novos.

Frei Betto
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Querido Che:
Ya han pasado cuarenta años desde que la CIA te asesinó en la selva de Bolivia, el 8 de octubre de 1967. Tenías entonces 39 años. Pensaban tus verdugos que, al meterte balas en tu cuerpo, después de haberte capturado vivo, condenarían al olvido tu memoria. Ignoraban que, al contrario de los egoístas, los altruistas nunca mueren. Los sueños libertarios no quedan confinados en jaulas cual pájaros domesticados. La estrella de tu boina brilla más fuerte, la fuerza de tus ojos guía a generaciones por las rutas de la justicia, tu semblante sereno y firme inspira confianza a quienes combaten por la libertad. Tu espíritu trasciende las fronteras de Argentina, de Cuba y de Bolivia y, cual llama ardiente, inflama aún hoy el corazón de muchos revolucionarios.
En estos cuarenta años ha habido cambios radicales. Cayó el muro de Berlín y sepultó al socialismo europeo. Muchos de nosotros sólo ahora comprenden tu osadía al señalar, en Argel en 1962, las grietas en las murallas del Kremlin, que nos parecían tan sólidas. La historia es un río veloz que no ahorra obstáculos. El socialismo europeo trató de detener las aguas del río con el burocratismo, el autoritarismo, la incapacidad para llevar a la vida cotidiana el avance tecnológico derivado de la carrera espacial y, sobre todo, se revistió de una racionalidad economicista que no hincaba sus raíces en la educación subjetiva de los sujetos históricos: los trabajadores.
Quién sabe si la historia del socialismo no sería distinta hoy si hubieranprestado oído a tus palabras: "El Estado se equivoca a veces. Cuando sucede una de esas equivocaciones se percibe una disminución del entusiasmo colectivo debido a una reducción cuantitativa de cada uno de los elementos que lo forman, y el trabajo se paraliza hasta quedar reducido a magnitudes insignificantes: es el momento de rectificar".
Che, muchos de tus recelos se han confirmado a lo largo de estos años y han contribuido al fracaso de nuestros movimientos de liberación. No te escuchamos lo suficiente. Desde África, en 1965, le escribiste a Carlos Quijano, del periódico Marcha de Montevideo: "Déjeme decirle, aún a costa de parecer ridículo, que el verdadero revolucionario está guiado por sentimientos de amor. Es imposible pensar en un auténtico revolucionario sin esta cualidad". Esta advertencia coincide con lo que el apóstol Juan, exiliado en la isla de Patmos, escribió en el Apocalipsis hace dos mil años, en nombre del Señor, a la Iglesia de Éfeso: "Conozco tu conducta, el esfuerzo y la perseverancia. Sé que no soportas a los malos. Aparecieron algunos diciendo que eran apóstoles. Tú los probaste y descubriste que no lo eran. Eran mentirosos. Ustedes han sido perseverantes. Sufrieron por causa de mi nombre y no se desanimaron. Pero hay una cosa que repruebo en ti: abandonaste el primer amor" (2, 2-4).
Algunos de nosotros, Che, abandonaron el amor a los pobres, que hoy se multiplican en la Patria Grande latinoamericana y en el mundo. Dejaron de guiarse por grandes sentimientos de amor para ser absorbidos por estériles disputas partidarias y, a veces, hacen de los amigos, enemigos, y de los verdaderos enemigos, aliados. Corroídos por la vanidad y por la disputa de > espacios políticos, ya no tienen el corazón encendido por ideas de justicia. Permanecieron sordos a los clamores del pueblo, perdieron la humildad del trabajo de base y ahora cambian utopías por votos.
Cuando el amor se enfría el entusiasmo se apaga y la dedicación se retrae. La causa como pasión desaparece, como el romance entre una pareja que ya no se ama. Lo que era 'nuestro' resuena como 'mío' y las seducciones del capitalismo reblandecen los principios, cambian los valores y si todavía proseguimos en la lucha es porque la estética del poder ejerce mayor fascinación que la ética del servicio.
Tu corazón, Che, latía al ritmo de todos los pueblos oprimidos y expoliados. Peregrinaste desde Argentina a Guatemala, de Guatemala a México, de México a Cuba, de Cuba al Congo, del Congo a Bolivia. Todo el tiempo saliste de ti mismo, encendido de amor, que en tu vida se traducía en liberación. Por eso podías afirmar con autoridad que "es preciso tener una gran dosis de humanidad, de sentido de justicia y de verdad, para no caer en extremos dogmáticos, en escolasticismos fríos, en aislamiento de las masas. Es necesario luchar todos los días para que ese amor a la humanidad viva se transforme en hechos concretos, en gestos que sirvan de ejemplo, de movilización".
Cuántas veces, Che, nuestra dosis de humanidad se ha resecado, calcinada por dogmatismos que nos hincharon de certezas y nos dejaron vacíos de sensibilidad para con los dramas de los condenados de la Tierra. Cuántas veces nuestro sentido de justicia se perdió en escolasticismos fríos que proferían sentencias implacables y proclamaban juicios infamantes. Cuántas veces nuestro sentido de verdad cristalizó en el ejercicio de autoridad, sin que correspondiésemos a los anhelos de quienes sueñan con un trozo de pan, de tierra y de alegría. Tú nos enseñaste un día que el ser humano es el "actor de ese extraño y apasionante drama que es la construcción del socialismo, en su doble existencia de ser único y miembro de la comunidad". Y que éste no es "un producto acabado. Los defectos del pasado se trasladan al presente en laconciencia individual y hay que emprender un continuo trabajo para erradicarlos". Quizá nos ha faltado destacar con más énfasis los valores morales, las emulaciones subjetivas, los anhelos espirituales. Con tu agudo sentido crítico cuidaste de advertirnos que "el socialismo es joven y tiene errores. Los revolucionarios carecen muchas veces de conocimientos y de la audacia intelectual necesarios para enfrentar la tarea del desarrollo del hombre nuevo por métodos distintos de los convencionales, pues los métodos convencionales sufren la influencia de la sociedad que los creó".
A pesar de tantas derrotas y errores, hemos tenido conquistas importantes a lo largo de estos cuarenta años. Los movimientos populares han irrumpido en todo el Continente. Hoy en muchos países están mejor organizados los campesinos, las mujeres, los obreros, los indios y los negros. Entre los cristianos, una parte significativa ha optado por los pobres y engendró la Teología de la Liberación. Hemos sacado considerables lecciones de las guerrillas urbanas de los años 60; de la breve gestión popular de Salvador Allende; del gobierno democrático de Maurice Bishop, en Granada, masacrado por las tropas de los Estados Unidos; de la ascensión y la caída de la Revolución Sandinista; de la lucha del pueblo de El Salvador. En México los zapatistas de Chiapas ponen al desnudo la política neoliberal y se propaga por América Latina la primavera democrática, con los electores repudiando a las viejas oligarquías y eligiendo a aquellos que son a su imagen y semejanza: Lula, Chaves, Morales, Correa, Ortega, etc.
Falta mucho por hacer, querido Che. Pero conservamos con cariño tus herencias mayores: el espíritu internacionalista y la revolución cubana. Una y otra cosa se presentan hoy como un solo símbolo. Comandada por Fidel, la Revolución cubana resiste al bloqueo imperialista, la caída de la Unión Soviética, la carencia de petróleo, los medios de comunicación que pretenden satanizarla. Resiste con toda su riqueza de amor y de humor, salsa y merengue, defensa de la patria y valoración de la vida. Atenta a tu voz, ella desencadena un proceso de rectificación, consciente de los errores cometidos y empeñada, a pesar de las dificultades actuales, en hacer realidad el sueño de una sociedad donde la libertad de uno sea la condición de justicia del otro.Desde donde estás, Che, bendícenos a todos nosotros los que comulgamos en tus ideales y tus esperanzas. Bendice también a los que se cansaron, se aburguesaron o hicieron de la lucha una profesión en supropio beneficio. Bendice a los que tienen vergüenza de confesarse de izquierda y de declararse socialistas. Bendice a los dirigentes políticos que, una vez destituidos de sus cargos, nunca más visitaron una favela ni apoyaron una movilización. Bendice a las mujeres que, en casa, descubrieron que sus compañeros eran lo contrario delo que ostentaban fuera, y también a los hombres que luchan por vencer el machismo que los domina. Bendícenos a todos nosotros los que, ante tanta miseria que siega vidas humanas, sabemos que no nos queda otra vocación más que la de convertir corazones y mentes, revolucionar sociedades y continentes. Sobre todo bendícenos para que, todos los días, estemos motivados por grandes sentimientos de amor, de modo que podamos recoger el fruto del hombre y la mujer nuevos.


Frei Betto





































Caro Che,
sono già passati quarant’anni da quando la CIA ti ha assassinato nella giungla boliviana, l’8 ottobre del 1967. Allora avevi 39 anni. I tuoi assassini pensavano che sparandoti addosso, dopo averti catturato vivo, avrebbero cancellato la tua memoria. Non sapevano, che al contrario di quello che capita agli egoisti, gli altruisti non muoiono mai. I sogni libertari non rimangono chiusi in gabbia come uccelli domestici. La stella del tuo basco ora brilla più forte, la forza dei tuoi occhi guida generazioni per le vie della giustizia, il tuo aspetto sereno e fermo ispira fiducia a chi combatte per la libertà. Il tuo spirito supera le frontiere dell’Argentina, di Cuba e della Bolivia, come una fiamma ardente avvolge ancora oggi il cuore di molti rivoluzionari
In questi quarant’anni ci sono stati cambiamenti radicali. E’ caduto il muro di Berlino, ed ha sepolto il socialismo europeo. Molti di noi capiscono solo ora il tuo osar segnalare, nel 1962 in Algeria, le crepe nelle mura del Cremlino, che ci sembravano così solide. La storia è un fiume rapido che non vuole ostacoli. Il socialismo europeo ha cercato di fermare le acque di quel fiume con il burocraticismo, l’autoritarismo, l’incapacità di portare nella vita quotidiana lo sviluppo tecnologico derivato dalla corsa allo spazio, e soprattutto, si era rivestito di una razionalità economicista che non affondava le sue radici nell’educazione soggettiva dei soggetti storici: i lavoratori.
Chissà se la storia del socialismo non sarebbe stata diversa se avessimo ascoltato le tue parole: “A volte lo Stato si sbaglia. Quando capita uno di questi equivoci si percepisce una diminuzione dell’entusiasmo collettivo, dovuto ad una riduzione quantitativa di ciascuno degli elementi che lo formano, ed il lavoro si paralizza fino a diventare di volume insignificante: è il momento di rettificare”.
Che, molti dei tuoi dubbi si sono confermati nel corso di questi anni ed hanno contribuito alla sconfitta dei nostri movimenti di liberazione. Non ti abbiamo ascoltato abbastanza. Nel 1965, dall’Africa, scrivesti a Carlos Quijano, del quotidiano Marcha di Montevideo: "Lasci che le dica, anche a costo di sembrare ridicolo, che il vero rivoluzionario è guidato da sentimenti d’amore. E’ impossibile pensare ad un autentico rivoluzionario senza queste qualità”. Questa nota coincide con quello che l’apostolo Giovanni, esiliato nell’isola di Patmos, scrisse nell’Apocalisse quasi duemila anni fa, nel nome del Signore alla chiesa di Efeso: “Conosco la tua condotta, lo sforzo e la perseveranza. So che non sopporti i malvagi. Vennero alcuni dicendo di essere apostoli.Tu li hai scoperti e smascherati. Erano menzogneri. Siete stati perseveranti. Avete sofferto a causa del mio nome e non vi siete lasciati perdere d’animo. Eppure, c’è qualcosa che disapprovo, l’aver lasciato il primo amore.” (2, 2-4).
Alcuni di noi, Che, hanno perduto l’amore per i poveri, che oggi nella Patria Grande latinoamericana e nel mondo, si sono moltiplicati. Hanno smesso di lasciarsi guidare dai grandi sentimenti d’amore per sterili dispute partitiche e, a volte, fanno degli amici, nemici, e dei veri nemici, alleati. Corrotti dalla vanità e dalla disputa per spazi politici, non hanno più il cuore acceso da ideali di giustizia. Sono rimasti sordi ai clamori del popolo, hanno perso l’umiltà del lavoro di base ed ora cambiano utopie in cambio di voti.
Quando l’amore si raffredda l’entusiasmo si spegne, e la dedizione finisce. La causa come passione sparisce, come il romanzo in una coppia che non si ama più. Ciò che era “nostro” risuona come ”mio” e le seduzioni del capitalismo blandiscono i principi, cambiano i valori. E se proseguiamo nella lotta è perché l’estetica del potere esercita maggio fascino che l’etica del servizio.
Il tuo cuore, Che, batte al ritmo di tutti i popoli oppressi e spogliati. Hai pellegrinato dall’Argentina al Guatemala, dal Guatemala al Messico, dal Messico a Cuba, da Cuba al Congo, dal Congo alla Bolivia. Per tutto questo tempo sei uscito da te stesso, acceso d’amore, che nella tua vita si traduceva in liberazione. Perciò potevi affermare con autorità che “bisogna avere una grande carica d’umanità, di senso di giustizia e di verità, per non cadere in estremismi dogmatici, in freddi scolasticismi, in isolamento dalle masse. Bisogna lottare tutti i giorni perché questo amore per l’umanità viva si trasformi in fatti concreti, in gesti che servano da esempio, da mobilitazione”.
Quante volte, Che, la nostra dose di umanità si prosciugata, calcinata dai dogmatismi che ci avevano riempiti di certezze e ci hanno lasciati vuoti di sensibilità per i condannati della Terra. Quante volte il nostro senso di verità si è cristallizzato nell’esercizio di autorità, senza che rispondessimo agli aneliti di quelli che sognano con un pezzo di pane, di terra e di allegria. Un giorno tu ci hai insegnato che “l’essere umano è l’Attore di questo strano e appassionante dramma che è la costruzione del socialismo, nella sua doppia esistenza di essere unico e membro della comunità. Ma questo non è un prodotto finito. I difetti del passato si spostano nel presente, nella coscienza individuale, e bisogna fare un continuo lavoro per sradicarli”. Forse ci è mancato di insistere con più enfasi sui valori morali, le emulazioni soggettive, gli aneliti spirituali. Col tuo acuto senso critico ti sei preso cura di avvertirci che “il socialismo è giovane e fa errori. I rivoluzionari sono spesso carenti di conoscenze e dell’audacia intellettuale necessaria per affrontare il compito dello sviluppo dell’uomo nuovo con nuovi metodi, diversi da quelli convenzionali, soffrono l’influenza della società che li ha creati”.
Nonostante tante sconfitte ed errori, in questi quarant’anni abbiamo raggiunto conquiste importanti. I movimenti popolari sono comparsi in tutto il Continente. Oggi in molti paesi i contadini, le donne, gli operai, gli indios sono meglio organizzati. Tra i cristiani, una parte significativa ha scelto di stare dalla parte dei poveri.ed ha abbracciato la Teologia della Liberazione. Abbiamo ricevuto molte lezioni dalle guerriglie urbane degli anni 60’; dalla breve gestione popolare di Salvador Allende; dal governo democratico di Maurice Bishop a Grenada, massacrato dalle truppe degli Stati Uniti; dall’ascesa e dalla caduta della Rivoluzione Sandinista; dalla lotta del popolo di El Salvador. In Messico gli zapatisti del Chiapas mettono a nudo la politica neoliberale e in America Latina si propaga la primavera democratica, con gli elettori che ripudiano la vecchie oligarchie ed eleggono quelli che sono a loro immagine e somiglianza: Lula, Chavez, Morales, Correa, Ortega, ecc.
Resta molto da fare, caro Che. Ma conserviamo con affetto le tue eredità più grandi: lo spirito internazionalista e la rivoluzione cubana. L’una e l’altra si presentano oggi come un simbolo unico.. Guidata da Fidel, la Rivoluzione Cubana resiste all’embargo imperialista, alla caduta dell’Unione Sovietica, alla carenza di petrolio, ai media che pretendono di demonizzarla. Resiste con tutta la sua ricchezza d’amore e di humor, salsa e merengue, difesa della patria e valorizzazione della vita. Attenta ai tuoi insegnamenti, realizza un processo di rettificazione, cosciente degli errori commessi, e nonostante le attuali difficoltà, è impegnata nel rendere possibile il sogno di una società in cui la libertà di uno sia la condizione di giustizia dell’atro. Là dove ti trovi, o Che, benedici tutti noi che condividiamo le tue idee e le tue speranze. Benedici anche quelli che si sono stancati, si sono imborghesiti o hanno fatto della lotta una professione a proprio beneficio. Benedici quelli che si vergognano di professarsi di sinistra e di dichiararsi socialisti. Benedici i dirigenti politici che, una volta investiti di un’autorità, non sono mai più stati in una favela, né hanno appoggiato una manifestazione. Benedici le donne che, a casa, hanno scoperto che i loro compagni erano il contrario di ciò che ostentavano fuori, ed anche gli uomini che lottano per vincere il machismo che li domina. Benedici tutti noi che sappiamo che di fronte a tanta miseria che falcia vite umane, sappiamo che non abbiamo altra vocazione che quella di convertire cuori e menti, rivoluzionare società e continenti. Soprattutto, benedicici affinché noi si possa essere motivati tutti i giorni da grandi sentimenti d’amore, e si possa cogliere così il frutto dell’uomo e della donna nuovi.

Frei Betto




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